domingo, 23 de março de 2008

Tecnologia muda conceito de escola

Publicado em 19.03.2008 - Jornal do Commercio

Bruna Cabral
bruna@jc.com.br

Unidades privadas de ensino adotam cada vez mais dispositivos hi-tech na sala de aula, o que ainda está longe da realidade nas instituições públicas]Os alunos falam sem parar. Trocam idéias, discutem, entendem-se e desentendem-se várias vezes durante a aula. Não param as mãos nem por um segundo e mal conseguem ficar sentados. Circulando de um canto a outro da sala, a professora Vancleide Jordão, do Colégio Apoio, assiste a tudo radiante: “os meninos” não poderiam estar mais concentrados na aula. De robótica, vale ressaltar. Nem bagunça, nem robôs. O que essa turma e muitas outras estão produzindo Brasil afora é um novo conceito de escola, mais dinâmico, científico e muito mais hi-tech.
Os laboratórios que começaram tímidos, só para prover o bê-á-bá da informática, hoje têm papel central na escola. E os computadores já estão por toda parte: invadiram salas de aula, o pátio e, principalmente, o projeto pedagógico da maior parte das unidades privadas de ensino. “Nossa filosofia de ensino é baseada na autonomia intelectual do aluno. Isso significa que as crianças precisam se apropriar do conhecimento: observar, experimentar, construir e só depois abstrair. E o computador tem tudo a ver com isso. Traz o mundo inteiro para dentro da sala de aula”, diz a diretora financeira e pedagógica de 5ª a 8ª séries do Apoio, Terezinha Cysneiros.
Para a pedagoga, quando os alunos utilizam softwares educativos ou desenvolvem o raciocínio lógico nas aulas de robótica, o desempenho deles dentro e fora de sala é muito melhor. A “tia” Vancleide, que coordena o projeto tecnológico do Apoio e recebe os pequenos no laboratório pelo menos uma vez por semana, garante: “Eles ficam muito mais receptivos às informações. É complicado para uma criança ou jovem passar 50 minutos atento a uma aula expositiva. Esse formato é muito antigo. Precisamos usar todas as ferramentas de que dispomos para tornar a aula mais atraente.”
O professor de geografia Bruno Lima usa vários. Depois de usar o Orkut anos a fio para lançar desafios para os alunos, ele decidiu criar um blog onde disponibiliza exercícios, fotos e textos relacionados ao conteúdo que dá nas aulas. “Os alunos acessam sempre. E como ensino em muitas escolas, trocam dicas e se ajudam. Na hora da prova, é só ir no blog resolver todos os exercícios para revisar”, diz.
O que Bruno faz não é exceção. No cursinho Fronteiras Apoio Pedagógico (FAP), o professor que não disponibilza um e-mail para tirar dúvidas, passa a noite no messenger teclando com os vestibulandos ávidos por informação. Mas nenhum é tão radicalmente adepto dos recursos tecnológicos como o professor de física Wendel Santos. Em sua sala, os alunos têm certeza de que o século 21 chegou para mudar definitivamente as escolas – e cursinhos.
Há cinco anos, Wendel aposentou o quadro-negro, que trocou por uma lousa inteligente (Smart Board), de fabricação canadense, que é, na verdade uma interface de relacionamento com o PC. “Com ela, posso fazer qualquer coisa: salvo aulas, escrevo, exibo imagens que já estavam prontas, crio figuras na hora, acesso a web, capturo imagens de sites e muito mais.” Tudo a um clique, aliás, a um toque. Além de sabida, a lousa é sensível: aceita comandos touch screen. Com o auxílio luxuoso dela, diz, alguns conceitos de física tornam-se muito mais palpáveis, especialmente os relacionados a movimento.
Como se não bastasse a lousa, Wendel ainda usa uma câmera de vídeo presa ao teto (que ele controla com uma espécie de joystick) para filmar as experiências que faz em sala de aula. No fim do dia, aula e experimentos estão à disposição dos alunos no site do professor. Visitadíssimo, claro.
Na página do Colégio Motivo, aula “virtual” e page view também não faltam. Munidos de login e senha, alunos podem checar arquivos e textos disponibilizados pelos professores numa sessão chamada Porta Arquivos. Mas é offline que a escola confirma sua vocação para a informatização. “Tecnologia não é mais luxo. Tornou-se uma necessidade. Seria um choque para um aluno que usa em casa um arsenal enorme, de notebook a player de MP3, chegar na escola e não encontrar nenhum recurso parecido”, diz Fernando Belo, diretor da escola.
“Forte investimento”, os diferencias hi-tech do Motivo estão por toda parte. Em vez de porteiros, quem recebe os estudantes são catracas de reconhecimento biométrico (aquelas que fazem a leitura das digitais). Enquanto os pequenininhos têm aulas de informática nos dois laboratórios da escola, os maiores contam, quase todos, com salas equipadas com projetor e PC. Em salas de terceiro ano há até lousa digital, que exibe imagens, salva textos e faz reconhecimento de escrita.
Nem no recreio a tecnologia sai de cena. Com acesso à web wi-fi, a escola criou um cantinho, batizado de Praça de Eventos, para os alunos mais “equipados” navegarem à vontade com palms e celulares. Isso sem falar na Web house, sala com 22 PCs à disposição de quem quiser estudar e fazer pesquisas. “É muito melhor estudar na tela do computador que no livro”, garante a habitué Mayara Barros, 16. Os 21 colegas “vizinhos de baia” concordam. Difícil é achar quem não tenha a mesma opinião. E entusiasmo. (B.C.)

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