domingo, 23 de março de 2008

Na rede pública, desafio ainda é infra-estrutura

Publicado em 19.03.2008 - Jornal do Commercio

Bruna Cabral
bruna@jc.com.br

Para os alunos de escolas públicas, computador não representa novas possibilidades de ensino. Mas impossibilidades muito antigas. As máquinas, ou a falta delas, reforçam o abismo social que não poupa crianças da situação de exclusão. Muitos alunos das redes estadual e municipal de ensino nunca chegaram a usar um computador na escola. Nem no laboratório, muito menos na sala de aula.
“Acho muito errado isso. Por que eu não posso, mas outras crianças de escola pública iguais a mim podem?”, questiona Davi do Nascimento, 13 anos. Para ele, computador só é viável raramente, quando sobra um trocado para a lan house. Na Escola Municipal Nilo Pereira, onde ele estuda, o laboratório existe. Tem até identificação na porta. Mas, em vez de micros, abriga instrumentos musicais. Os equipamentos que chegaram na escola em 1998 não duraram muito. Foram quebrando até não ter conserto ou substitutos.
Outras escolas, como a Estadual de Olinda não se queixam de falta de computadores. Já faz um ano que as máquinas estão todas lá, bem embrulhadinhas, esperando o fim de uma reforma no prédio que se arrasta desde 2007. Segundo a diretora, elas até chegaram a ser usadas (embora muitas caixas ainda estejam lacradas), mas foi “por pouco tempo”. Mesmo protegidos da poeira da obra, os micros dificilmente estarão em perfeitas condições depois de tanto tempo sem uso. Aí, vão entrar na longa fila por manutenção.
Quando não faltam PCs, nem sala, a dificuldade são professores capacitados. Mesmo considerada modelo por ostentar um laboratório com 25 máquinas, a Escola Estadual Governador Barbosa Lima ainda enfrenta dificuldades para utilizar a tecnologia como ferramenta pedagógica. O principal entrave são os professores. “Muitos têm uma resistência enorme ao uso do laboratório. Já fizemos muito trabalho de conscientização, mas 40% de docentes ainda são completamente avessos às atividades em laboratório”, revela Magaly Cavalcanti, gestora da unidade. Ela explica que não é exatamente boa vontade que falta aos professores, mas familiaridade com as máquinas. O problema é que fica a cargo deles decidir quando usar o laboratório e ainda elaborar as atividades hi-tech. “Mas na faculdade não somos preparados para isso”, diz a professora “autodidata” de informática Úrsula Veras.
Projeto para mudar a realidade das escolas públicas onde esses problemas se repetem é o que não falta. Para a Secretaria de Educação do Recife, laboratório de informática é prioridade. São 217 unidades de ensino, das quais 120 têm PCs. “Estamos adquirindo as máquinas para equipar as demais”, garante a diretora de Tecnologia na Educação e Cidadania, Sônia Sette. Segundo ela, o computador tem dois papéis nas escolas municipais: ajudar no trabalho de sala de aula e garantir cidadania. “A alfabetização digital é hoje tão importante quanto a tradicional.”
Os planos da Secretaria Estadual de Educação são mais ousados. Só este ano, a secretaria promete: montar laboratórios de informática (com 10 PCs) em todas as 1.107 escolas da rede (800 já têm), garantir internet em banda larga para todas até abril e ainda promover a inclusão digital de alunos e professores.
A principal ação que está sendo encaminhada neste sentido é um concurso para eleger os melhores projetos pedagógicos que envolvam o uso da tecnologia entre as escolas estaduais. “Será promovida uma edição por ano. A primeira já foi realizada e selecionou 52 projetos. Todos os colégios vencedores ganharão equipamentos como projetores e os professores receberão PCs”, diz o superintendente de Tecnologia da Informação da secretaria, João Carlos Duarte. Ele explica que, como uma mesma escola não pode ser premiada duas vezes, a idéia é que ao fim de alguns anos todas as unidades e docentes tenham sido contemplados. Para os alunos, o projeto mais audacioso da secretaria estadual é o desenvolvimento de uma rede social, à imagem e semelhança do Orkut, com apoio do Ministério da Educação.
O governo federal está envolvido ainda em vários outros projetos, como o que começa a distribuir este ano notebooks para estudantes da rede pública e o Proinfo, para distribuição de PCs, além de capacitações presenciais e a distância de professores e a elaboração de material didático. (B.C.)

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