domingo, 23 de março de 2008

BATALHA COM DALAI LAMA

Premier chinês cogita encontro com Dalai Lama;
Pequim fala de luta de 'vida e morte' no Tibete

Publicada em 19/03/2008 às 13h39m - O Globo Online
Agências internacionais

PEQUIM e LONDRES - O primeiro ministro britânico, Gordon Brown, disse nesta quarta-feira que o premier da China, Wen Jiabao, está disposto a se reunir com o Dalai Lama, líder tibetano no exílio, sob "certas condições", a fim de discutir a crise no Tibete. Brown tem encontro marcado com o Dalai Lama em maio, na capital britânica.
Apesar do movimento de aproximação, o governo da China disse, nesta quarta-feira, que enfrenta uma batalha de "vida e morte" com o Dalai Lama para tentar acabar com a onda de protestos por democracia na região do Tibete, que resultou em prisões e aumento do controle político. Segundo o jornal "South China Morning Post", as manifestações na capital do tibetana se estenderam a três províncias chinesas que fazem fronteira com o Tibete. A mídia estatal diz que 105 pessoas se renderam à polícia por participarem dos protestos em Lhasa, após autoridades fixarem um prazo para os manifestantes se entregarem. (Saiba mais sobre a crise no Tibete)
- Estamos no meio de uma dura luta envolvendo sangue e fogo, uma luta de vida e morte com a camarilha do Dalai - disse Zhang Qingli, secretário do Partido Comunista do Tibete, em uma teleconferência dos líderes da região e da sigla, segundo o China Tibet News. - Líderes de todo o país devem entender profundamente como é ardorosa, complexa e de longo prazo a natureza da luta. Após vencer o ultimato para que os manifestantes se entregassem, na segunda-feira, a TV estatal chinesa afirmou que envolvidos em agressões, destruição de bens públicos, saques e incêndios se renderam. Alguns teriam devolvido dinheiro furtado durante os distúrbios. ONGs que defendem a libertação do Tibete afirmam, entretanto, que não houve rendição.
Os protestos se estenderam de Lhasa - capital tibetana onde as manifestações começaram há dez dias - para as províncias de Sichuan, Gansu e Qinghai, informou nesta quarta o diário "South China Morning Post". Na cidade de Aba, em Sichuan (limítrofe com o Tibete), a polícia abriu fogo contra os manifestantes e deixou vários mortos, segundo a ONG Centro Tibetano para os Direitos Humanos e a Democracia, cuja sede central fica em Hong Kong.
- Eles (os manifestantes) ficaram loucos - disse ao jornal uma funcionária da policia, que afirmou que um grupo de tibetanos queimou um posto da polícia e um mercado, além de atear fogo em dois carros das forças de segurança.
A polícia admite que respondeu com gás lacrimogêneo e afirma que prendeu cinco pessoas, mas não há confirmação oficial sobre o número de mortos. Em Qinghai, que também faz fronteira com o Tibete, 100 monges desafiaram a ordem de permanecerem confinado em seu mosteiro, e após escalar uma colina atiraram objetos e queimaram incensos. Na província de Gansu, tibetanos a cavalo e em motocicletas atacaram um edifício governamental e foram recebidos com violência pela Polícia.
O governo chinês ainda não confirmou nenhum destes novos protestos. As manifestações já haviam chegado a Pequim, na segunda, onde estudantes de origem tibetana realizaram uma vigília em homenagem aos mortos nos protestos de sexta. . As manifestações pela independência do Tibete se repetiram também em diversas cidades do mundo.

Ameaça de renúncia do Dalai Lama é balde de água fria para separatistas

Em meio ao agravamento da crise no Tibete e à escalada de protestos contra a repressão chinesa na região, o Dalai Lama, líder espiritual dos budistas tibetanos e chefe de governo do Tibete no exílio, disse na terça-feira que vai renunciar à liderança do governo se os tibetanos insistirem na violência para exigirem a independência em relação a Pequim. O prêmio Nobel da Paz disse que não pode renunciar a seu papel como líder espiritual reencarnado do budismo tibetano, afirmando que "a violência é contra a natureza humana".
As declarações do Dalai Lama, apesar de coerentes com seu pensamento religioso, pela segunda vez servem como balde de água fria para a luta dos separatistas tibetanos em relação à China. No ano passado, o líder budista chegou a dizer que não deseja a independência do Tibete, mas sim "uma maior autonomia" em relação ao governo chinês, o que provocou constrangimento entre os que desejam a separação.
Horas antes de pedir pelo fim da violência e ameaçar renunciar, ele foi acusado pelo primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, de orquestrar as manifestações em que dezenas de pessoas teriam morrido . O premier disse que os seguidores do líder espiritual budista estão tentando incitar a sabotagem aos Jogos Olímpicos de Pequim, que começam em menos de cinco meses.
Em discurso na manhã de terça-feira (horário local), durante o encerramento anual do Congresso Popular da China, o premier também taxou de mentira a acusação do Dalai Lama de que o Exército chinês estaria realizando um genocídio cultural .
O governo tibetano no exílio afirmou na terça-feira que, com a morte de mais 19 manifestantes, o número de mortos durante os protestos por democracia no Tibete, iniciados no último dia 10, já chega a 99. Segundo a China, 13 civis inocentes morreram nos distúrbios do dia 14 de março, quando defensores da autonomia do Tibete atacaram lojas e casas e foram reprimidos pela polícia. Os protestos se espalharam para regiões próximas e chegaram, na segunda-feira, a Pequim,
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, se disse "cada vez mais preocupado" com os relatos de violência no Tibete. A União Européia pediu a autoridades e manifestantes que evitem a violência e disse que um boicote à Olimpíada de agosto não seria a resposta ideal. Já a Rússia estimulou a China a fazer o que for preciso para contar "ações ilegais" no Tibete. Uma breve nota da chancelaria não fez críticas ao comportamentos das autoridades.

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