23% dos docentes da área no ensino médio não têm graduação, segundo estudo da Capes
Simone Iwasso
O Estado de São Paulo 31/03/2008
Cerca de 23% dos professores de matemática do ensino médio no País não têm curso superior. Eles completaram apenas o próprio ensino médio - mesmo nível de escolaridade para o qual dão aulas. Outros 21%, aproximadamente, são graduados em outras áreas, que podem ser próximas da matemática, como Processamento de Dados e Ciências Contábeis, ou bem distantes, como Letras. Apenas 20% são formados de fato em Matemática. Nas regiões Norte e Nordeste o índice de professores sem formação superior é ainda mais alto, chegando a 36,9% e 36,1%, respectivamente. Por lei, todos deveriam ter diploma universitário.
Os problemas no ensino da matemática aparecem em estudantes de todos os níveis e regiões. Na última avaliação internacional Pisa, cujos resultados foram divulgados no ano passado, os estudantes brasileiros tiveram um dos piores desempenhos na disciplina, ficando na frente apenas dos da Tunísia, Catar e Casaquistão. Na semana retrasada, as notas do Saresp, a avaliação feita pelo Estado de São Paulo, mostraram que 71% dos alunos terminam o ensino médio sem conhecimentos básicos da área. Eles têm dificuldades para realizar operações de soma, subtração, multiplicação e divisão, além de não conseguirem mensurar grandezas e medidas.
Os dados fazem parte de um relatório elaborado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que desde o fim de 2007 assumiu também a responsabilidade pela formação de professores para educação básica. O diagnóstico servirá de base para a elaboração de uma rede nacional de formação de professores, uma das metas do ministro da Educação, Fernando Haddad. O objetivo é formular medidas emergenciais para suprir essa necessidade, com foco também nas áreas de física e química, assim como organizar um sistema de graduação que atraia os jovens para a docência.
Também foi formado na Capes um Conselho Técnico-Científico da Educação Básica, com integrantes da sociedade civil e do governo federal. A idéia é discutir medidas para concentrar os esforços de municípios e Estados, que hoje investem em cursos de capacitação dispersos que, segundo pesquisas recentes, trazem pouco retorno em termos de qualidade do ensino. Paralelamente, já está em funcionamento a Universidade Aberta do Brasil, um sistema de ensino a distância com pólos presenciais distribuídos pelo País.
A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) estabeleceu que, a partir de 2007, todos os professores contratados para atuar da 5ª a 8ª séries e no ensino médio deveriam ter licenciatura. Os do ensino infantil e primeiro ciclo do fundamental (1ª a 4ª séries) precisariam ter feito Pedagogia ou curso normal superior - meta que ainda está longe de ser cumprida.
“Estamos mapeando o que chamamos de inimigos da educação, que são a falta de formados e licenciados para o ensino, a evasão profissional dos formados para outros empregos e os currículos das universidades que são incompatíveis com a docência para a educação básica”, afirma Dilvo Ristoff, diretor de Educação Básica Presencial da Capes. “O ensino é muito teórico e pouco prático.”
Ele chama atenção para outra falha do sistema atual: 14% dos professores de todas as disciplinas exercem a função sem ter a habilitação legal para isso, que é a licenciatura. “A licenciatura é vista como a prima pobre das carreiras”, completa Ristoff.
FÍSICA E QUÍMICA
Física e química também são áreas bastante complexas, além da matemática. Segundo o diagnóstico da Capes, “física é, possivelmente, a disciplina com o menor porcentual de profissionais que lecionam na rede pública com formação específica”. No total, apenas 8,1% dos 26.867 professores são formados na área.
“Fizemos uma estimativa e, no ritmo que estamos, com o número de formandos anuais e a perda para outras funções, levaríamos 80 anos para suprir a demanda e ter todos os professores graduados”, afirma Ristoff. Enquanto isso, são professores sem graduação ou formados em Letras, Ciências Sociais ou Contabilidade que acabam indo para a sala de aula para ensinar os princípios básicos das disciplinas aos alunos. No Nordeste, apenas 12% dos professores de química são formados na área. “Não há oferta de formação suficiente e não há incentivo para que o recém-formado vá para a docência, especialmente na área de exatas. Ele encontra outras oportunidades mais atraentes no mercado de trabalho”, afirma Maria Tereza Crewe, coordenadora do curso de matemática da Universidade Ibirapuera. “Infelizmente, vivemos na escola aquela realidade na qual quem sabe um pouquinho a mais ensina quem não sabe nada.”
segunda-feira, 31 de março de 2008
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