segunda-feira, 27 de abril de 2009

Esquema de passagens - Jornalista foi vítima do mercado paralelo de passagens aéreas da Câmara e viajou em nome de deputado morto



Blog de Jamildo

Deu em O Globo

Em meio as denúncias do mau uso da cota de passagens aéreas e de um esquema de venda clandestina de passagens, foi descoberto que a Câmara negociou até crédito de passagens aéreas de um deputado morto. Uma das vítimas foi o jornalistas do GLOBO Henrique Gomes Batista. Ele recebeu da agência de turismo Braziliense Travel, em janeiro de 2007, um crédito que lhe era devido por uma viagem não realizada em função do caos aéreo em nome do deputado Helenildo Ribeiro (PSDB-AL). Helenildo, porém, morreu em 21 de dezembro de 2006 em consequência de uma cirurgia no abdome.

Na época, a agência disse que utilizaria o crédito de outros clientes para liberar as passagens do jornalista porque a Gol, empresa aérea que prometera depositar o valor do crédito na conta da Brasiliense Travel, ainda não teria devolvido o crédito dos voos. O procedimento foi questionado, mas a agência informou que era um uma praxe no local, que era apenas uma questão contábil da empresa com sua carteira de clientes.

O GLOBO tentou sem sucesso contatar a empresa, que não opera mais em nenhum dos três endereços que mantinha em 2006 nem está cadastrada no Ministério do Turismo. O site também foi desativado.

Uma comissão de sindicância da Câmara descobriu que agências de viagem tinham acesso direto ao departamento de passagens da Casa num esquema clandestino de venda de bilhetes. Reportagem do Jornal Nacional desta sexta-feira mostra que pelo menos 18 deputados têm os nomes relacionados com a venda ilegal de passagens.

O esquema só pode ocorrer com a participação de alguém do gabinete do deputado. Nele, o passageiro compra e paga a passagem para a agência de turismo. A agência fica com o dinheiro, mas não emite o bilhete. Em seguida, um funcionário da agência entra em contato com o gabinete do deputado e pede que a passagem seja emitida pela cota do parlamentar em nome do comprador do bilhete. Com isso, a Câmara paga à companhia aérea. Por fim, o dinheiro que a agência recebeu do passageiro é dividido com o gabinete do deputado.

Márcio Bessa, dono da Agência Infiniti, de Brasília, admitiu a emissão de passagens para clientes dele na cota do deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE). Mas de acordo com Bessa, Aníbal Gomes estava pagando uma dívida que tinha com a agência.

Nesta sexta, a Comissão de Sindicância da Câmara constatou que o ministro Eros Grau e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, foram vítimas da máfia de venda de passagens. Eles apareceram como beneficiários de bilhetes na cota dos deputados Paulo Roberto (PTB-RS) e Fernando de Fabinho (DEM-BA) , respectivamente, embora tenham apresentado notas que comprovam a compra das passagens. O esquema também está sendo investigado pelo Ministério Público . O código de emissão da passagem pela Câmara foi trocado, para esconder a irregularidade.

A comissão de sindicância descobriu também que funcionários de agências de turismo que integravam o esquema tinham a senha de deputados e pediam a emissão das passagens aéreas diretamente à Câmara. O corregedor da Câmara, deputado ACM Neto (DEM-BA) disse que tudo será investigado.

Obrigado a recuar e submeter ao crivo dos 512 deputados a norma moralizadora do uso das cotas de passagens aéreas, o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP) optou por seguir os passos do colega do Senado, José Sarney (PMDB-AP) e apresentou regras mais restritas. O texto divulgado nesta sexta limita as viagens ao território nacional e extingue a cota extra que os integrantes da Mesa Diretora da Casa tinham direito. Mas mantém esse benefício extra para líderes partidários e de governo , ao contrário do que aconteceu no Senado, onde todos os extras foram cortados.

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